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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A importância da dança na gestação


O post de hoje fala sobre a importância da dança na gestação. Quem escreve para nós é a doula e bailarina Juliana (Jufih). Ao fim do post, um vídeo maravilhoso dela dançando durante sua gestação!

Dançar na gestação
Quando carregamos um novo ser, contemplamos o corpo, o próprio, em plena transformação e o do bebê, em constante desenvolvimento, crescimento e movimento. Conseguir momentos especialmente para admirar, perceber e entrar em contato com tanta riqueza de emoções, formas, sensações e se comunicar com toda mudança que está acontecendo e que ainda está por vir é muito importante para promover o bem estar, segurança e o empoderamento na gestação. Para além dos benefícios físicos de se dançar na gestação, não menos importantes é claro, como: diminuição dos desconfortos e dores no corpo, melhora na circulação, fortalecimento do assoalho pélvico, aprofundamento da respiração, melhor funcionamento dos sistemas em geral; percebe-se que dedicar alguns momentos nesta atividade traz confiança no processo natural da gestação, parto e pós-parto. Isto acontece pois a dança nos coloca em profundo contato com nós mesmos, com o que sentimos, o que acreditamos, o que desejamos e o que imaginamos. Nos re-conecta com o corpo, que agora se modifica pouco a pouco, precisando ser re-descoberto a cada instante! O movimento é intrínseco a gestação, é quando nosso corpo e o do bebê estão em constante harmonia, de acordo com a música interna dos fluídos, coordenados pelos pulmões e o coração, aliás, corações! É a dança da vida frutificando! Os movimentos de quadril são especialmente benéficos, pois fortalecem a região pélvica e na hora do parto facilitam a descida do bebê, por exemplo, além de auxiliarem no controle da sensação de dor provocada pelas contrações. Além do quadril, movimentar a caixa torácica também ajuda a expandir a respiração, a auxiliar o bebê a se re-posicionar quando fica em posição incomoda para a gestante (os famosos pés nas costelas) e a pegar fôlego na hora de empurrar o bebê no período expulsivo do trabalho de parto. Com a percepção corporal apurada, fica mais fácil e prazeroso lidar com toda transformação que a gestação, parto e o puerpério provocam em nós. A dança possibilita este contato. E mais ainda: é uma oportunidade de compartilhar com outras gestantes e construir uma rede de apoio. Juliana (Jufih) - Gerar e Nutrir



terça-feira, 16 de setembro de 2014

Uma história de amor na gestação através da dança


Hoje irei compartilhar com vocês uma história de amor através da poesia e da dança.
Conheci Ana ainda adolescente, éramos do mesmo grupo de amigos mas nunca havíamos conversado muito. Ela estava nos seus primeiros anos de namoro com o seu atual marido Elton. Nos reencontramos no chá de bebê de uma cliente e amiga, a Melissa.
Quando soube que ela dançava dança do ventre, fiquei muito contente porque sei os benefícios da dança para a gestante (logo no blog um texto sobre isto!). Mas foi quando soube que ela se apresentaria, com aquele barrigão lindo, que eu fiquei radiante!

O post de hoje é a história de amor de uma mãe com seu filho, ainda não nascido, mas extremamente presente e amado!

"Depois de mais de um ano preparando esse espetáculo, finalmente tinha chegado o dia. Tivemos até que mudar de data, porque foi durante o planejamento que descobri que eu estava grávida. Tive que abrir mão de várias coreografias e me concentrar em poucas, porque sabia que iria dançar com 33 semanas e já ia estar com um barrigão.

A nossa professora e coreógrafa tinha me pedido pra fazer uma transição entre duas coreografias, uma música curtinha, mais pra dar tempo de troca de figurinos mesmo. Ela me sugeriu uma música que gostei logo de cara e comecei a ouvir muito. Essa pequena transição começou a se transformar e logo entrou na lista de coreografias como um solo. 

Como seguia a proposta do espetáculo, escrevi uma poesia para o sentido que eu queria dar à dança.Em um momento de inspiração, me concentrei no meu filho e escrevi pra ele. Escrevi do meu amor por ele. Foi assim que nasceu a poesia Celebração, que acompanhou a dança no dia do espetáculo.

Naquele dia, na coxia, com as velas acesas, esperando minha música começar pra eu entrar, o locutor leu a poesia. Um nó me veio à garganta, uma vontade de chorar, mas respirei fundo e entrei no palco e o iluminador deixou a luz mais baixa, introspectiva. Naquele momento não existia mais ninguém no mundo, só eu e o Francisco. Dancei de improviso, sentindo o momento, celebrando a vida dele, como diz a poesia. Uma calma me veio e me senti muito bem, poderosa e linda. Foi daqueles momentos que parecem passar tão rápido, e ao mesmo tempo durar uma eternidade. Esqueci do tempo e de tudo e quando a música acabou é que lembrei onde eu estava. Ouvi as pessoas batendo palmas e gritando, as luzes se apagaram e minhas pernas voltaram a ficar bambas pra sair do palco. Respirei fundo e recebi alguns abraços nos bastidores, mas corri pra trocar de roupa pra próxima coreografia.

Foi no dia seguinte que senti as dores musculares de quem está com 10 quilos a mais. Foi no dia seguinte que vi algumas fotos que os amigos tiraram e foi aí que veio a emoção. Chorei de felicidade. Fiz uma homenagem linda a meu filho: dancei pra ele, celebrei sua vida."


Ana e Francisco - foto por Sérgio Surkamp


Celebração

"Hoje celebro tua vida, porque hoje não há mais distinção entre o que sou eu e o que és tu. Tua existência é a razão do meu viver. Enquanto eu era somente eu, não sabia que poderia existir esse sentimento. Teu toque me faz sentir viva. Tua presença me encoraja. Todo meu ser só existe por ti, só faz sentido porque estás aqui. MEU FILHO, te amo, sou tua. Minha vida é tua, meu corpo é teu. Danço para ti, porque meu corpo é CELEBRAÇÃO da tua vida!"

domingo, 14 de setembro de 2014

A importância do acompanhamento da gestação, parto e pós parto!


Conversando na sexta-feira sobre parto, gestação e puerpério com alguns amigos confirmei como é importante a informação e suporte. Uma doula respira gestação, parto e puerpério, e estes assuntos acabam sempre nas rodas de conversa e mesas de bar, o que é ótimo porque é impressionante a falta de informação que as pessoas normalmente tem sobre o assunto. 

Não são somente os homens que, antes de engravidar, não imaginam o universo de saberes diferentes que envolvem o ciclo gravídico puerperal: muitas mulheres também desconhecem.E muito provavelmente, é pelo desconhecimento que temem o parto normal, a amamentação e muitas vezes a própria maternidade.

Depois de algumas horas conversando, as duas mulheres que estavam comigo, seguras anteriormente que queriam cesáreas para não passar pelo sofrimento, estavam começando a pensar diferente. Pelo menos a dúvida foi plantada, e a promessa de estudar mais firmada. Uma promessa delas com elas mesmas, obviamente, e não comigo, porque a escolha de parto ou cesárea compreende a elas e aos seus companheiros.

O acompanhamento da gestação, do parto e do puerpério ajuda as famílias a se sentirem mais seguras. É através do suporte dado que elas desenvolvem o seu auto-suporte, sentindo-se confiantes e poderosas para enfrentar os desafios. O parto é só o primeiro deles, ainda virão muitos pois toda a experiência nova - como a própria maternidade - sempre vem recheada de alegrias e desafios.

Se você está gestando ou pretende estar, converse com uma doula. Peça indicações de obstetras humanizados, que entendem de parto normal e que não temem o processo. Que podem deixar o poder de parir, de gestar, nas suas mãos, que confiam em você e na sua possibilidade natural de parir, e que ao mesmo tempo são conscientes do seu papel como cuidadores da sua gestação. Busque vídeos de experiências reais de parto, que mostrem todo o amor que envolve o processo, e não somente àqueles em que as pessoas sobem nas barrigas e fazem episiotomias sem respeitar a mulher. De desgraça o mundo - e o google - estão cheios, e estes não ajudarão no seu processo de empoderamento para o parto. Te deixarão mais insegura, e alimentarão os seus fantasmas. 

Tenha um acompanhamento, tire suas dúvidas, procure e desconfie de tudo que desmereça o seu potencial. As pessoas que trabalham com isso, fazem porque amam demais e certamente muitas se disponibilizarão para lhes ajudar com as inseguranças e dúvidas. 

Para finalizar este post, peço um colorido especial para as minhas (e meus) clientes que lerem. Gostaria que vocês comentassem abaixo, como a experiência de um acompanhamento as ajudaram na gravidez, parto e pós-parto. Dia 20/09 é meu aniversário, e este será o maior presente que vocês podem me dar.

Obrigada, desde já, pelo carinho!

Rodrigo, Melissa, Henrique e eu - um quarteto fantástico!* 

*Obrigada por permitirem que eu abraçasse a sua experiência de maternidade/paternidade com tanto carinho e presença!

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Como atender um parto acidental (por Ana Cristina Duarte)

O texto a seguir foi escrito por Ana Cristina Duarte, obstetriz ativista da humanização do parto e nascimentos, e uma mulher incrível. Foi postado na sua página do facebook em 30 de agosto de 2014.

Trata de um texto de utilidade pública, com algumas dicas preciosas para assegurar a segurança e o processo de parto. Deve ser lido por todos e encaminhado principalmente para os taxistas, bombeiros, policiais, doulas, enfim, profissionais que poderão estar em contato com gestantes em trabalho de parto, e precisarem assistir ao nascimento de bebês.

O mais importante nesta situação é manter a calma, proteger a mulher (dos olhares curiosos, de ambientes gelados e claros, do estresse que pode estar acontecendo) e deixar a natureza agir o seu curso. O trabalho é passar segurança e confiança para que ela também passe a confiar no seu corpo e no processo do parto. 
Abaixo, indicações de como atender um parto acidental.

"Você é motorista de taxi, pega aquela corrida da madrugada, festa estranha de gente esquisita, a mulher gemendo, barrigão, oh meu deus, isso vai acontecer dentro do meu taxi!
Você é doula, chega na casa do casal para ver como estão as coisas, é o primeiro bebê, você acha que tem a madrugada toda pela frente, e encontra a moça no banheiro fazendo força, e já pensa: não vai dar nem pra chegar na garagem.

Você é policial, percebe aquele vuco-vuco debaixo do viaduto, comoção, que que está acontecendo? A roda se abre e a mulher está de joelhos no chão, olhar perdido, segurando a barriga proeminente e você na hora já sabe: esse vai ser meu primeiro parto.
E agora?

1) Ajuda. Para não incorrer em exercício ilegal de profissão, ou algo pior, chame o 192 ou 193 tão logo perceba que o bebê vai nascer ali e "peça" auxilío. Mesmo que você saiba o que fazer, mesmo que não sair dali seja opção da mulher, ligue e mantenha a ligação até que o "socorro" chegue ou que se chegue ao hospital. Essa ligação é gravada e será a base de qualquer defesa num eventual processo. Se a mulher ou você conhece médico ou obstetriz que possa acudir, chame imediatamente. (Colaboração Camila Perez - Pós graduanda em Direito Médico e da Saúde - OAB/SP 332276)

2) Adrenalina. A adrenalina é hormônio de fuga, e não de parto. Então acalme-se. Lembre-se que esses partos rápidos são em sua imensa maioria muito fáceis e tranquilos. Pense na incrível força da natureza que há por trás de uma gravidez e um parto de sucesso, e na potência que há em uma mulher dando à luz seu bebê. Pura potência. Pense nas suas ancestrais, pense nas parteiras que fazem o serviço sozinhas em choupanas e com apenas panos improvisados por anos a fio. Não há segredo no que está para acontecer, embora seja realmente grandioso. Vai dar tudo certo. A regra é a vida. Você não está ali para salvar ninguém, mas sim promover conforto e presenciar um dos mais sublimes eventos que a vida vai lhe proporcionar. Aproveite cada minuto com calma e tranquilidade. Assista maravilhado a vida explodindo.

3) Ocitocina. A mulher precisa da ocitocina para que o parto aconteça. Conecte-se com ela, transmita paz e calma. Olhe-a nos olhos, respire com ela e diga que está tudo bem e que você vai ajudá-la. Respire lentamente e ajude-a a se conectar, principalmente se ela estava assutada e as pessoas em volta ainda mais assustadas. Segure-a pelas mãos. Se há alguém com ela, diga que está tudo bem, para se acalmar que tudo vai dar certo e tudo está indo bem. Diga que ela é fantástica, que ela está fazendo tudo de forma esplêndida. Capriche nos elogios, porque ela realmente merece.

4) Espaço. Providencie espaço adequado. Panos no chão, um colchão, a cama forrada de toalhas, o banco do carro forrado com o que você conseguir. Se você é taxista, aliás, porque não leva um forro de plástico permanentemente no porta-malas? Compre na farmácia um pacote de lençol absorvente descartável e deixe sempre à mão. Se você estiver na rua, providencie privacidade para a mulher. Veja se alguém consegue lençol, cobertas, cortina, qualquer coisa que possa montar uma "cabana" ao redor dela e evitar o olhar de curiosos. Se estiver na calçada, veja se consegue levá-la ao estabelecimento comercial ou público mais próximo. Se está em casa no banheiro tire-a do vaso sanitário ou então forre com uma toalha esticada sob a tampa do vaso. Dessa forma se o bebê nascer, não cairá na água. Se possível, leve-a entre uma contração ou outra para a cama forrada. Se ela estiver no chuveiro, deixe-a lá. Apenas consiga toalhas para forrar o chão onde o bebê vai nascer.

5) Posição. Evite que ela fique deitada de barriga para cima. Essa é a pior posição para a oxigenação do bebê. Pode ser em quatro apoios, acocorada apoiada em alguma companhante, deitada de lado, ajoelhada e apoiada em alguém ou algo, ajoelhada na beira da cama, essas são algumas sugestões. Deixe-a mudar de posição livremente. As contrações vão empurrar o bebê e nos intervalos ela vai respirar, descansar, beber água e pode aproveitar para levantar, esticar as pernas, alongar o corpo. Não se preocupe se a mãe evacuar ou até mesmo se o bebê se sujar por causa disso. Essa "contaminação" não é prejudicial ou perigosa, de forma alguma. Essas bactérias são as que vão colonizar o aparelho digestivo do bebê para que ele digerir e absorver normalmente.

6) Conforto. Providencie coberta, almofada, apoio para a cabeça e pernas, tudo o que possa fazer ela se sentir mais confortável. Se ela estiver de calça comprida, pergunte se ela consegue tirar ou peça permissão para ajudar. Não tire a roupa à força. Não precisa tirar as outras peças de roupa, se ela estiver confortável. Se estiver em local público cubra e proteja de curiosos as partes íntimas com uma toalha, pano, camiseta, o que conseguir. Ainda que ela não solicite, ou não declare, até mesmo por falta de condições, ela sempre se lembrará desse gesto de elegância com gratidão. E o risco de um trauma pela exposição pública não é pequeno.

7) Força. Não precisa pedir para ela fazer força. Ela sabe o que fazer, o corpo fará tudo sozinho. As forças excessivas diminuem a oxigenação do bebê. Deixe o corpo dela funcionar. Os cabelinhos do bebê aparecerão pouco a pouco, e não há urgência alguma para que saia logo. Os bebês sabem sair por si próprios. Mesmo mudando de posição várias vezes, em algum momento o bebê vai sair.

8) De bumbum. Se o que você perceber saindo for um bumbum de bebê ou pezinhos, ajude a mulher a ficar em quatro apoios, mãos e joelhos no chão (ou na cama) e não faça mais nada. Não toque no bebê até que ele saia por completo. Deixe a força da gravidade ajudar. Nessa posição é importante que o bebê "caia" sobre a superfície. No máximo coloque uma toalha dobrada sob a mulher, onde o bebê vai cair (de pé ou sentado).

9) De cabeça. Após a saída da cabeça, se ainda estiver envolta pela bolsa das águas, rasgue-a com os dedos calmamente para que o bebê possa respirar. Aguarde o resto do corpo sair. Se o corpo não sair depois da contração seguinte, coloque a mulher em quatro apoios e peça para ela fazer muita força na próxima contração. Essa é a única hora em que fazer torcida organizada para as forças pode ser uma ótima ideia. Deixe o bebê sair sozinho, não puxe e não manipule. No máximo coloque suas mãos sob ele, para suavizar a aterrisagem. Se preferir, incentive o acompanhante a segurar o bebê enquanto você supervisiona. Se você não tem luvas, não conhece a mãe e não tem garantias de que ela não tem HIV ou Hepatite B, o melhor é você não tocar no bebê e nos líquidos do parto. Se precisar, use uma razoável camada de tecidos entre a sua mão e o bebê. Caso você entre em contato com alguma secreção, não entre em pânico. Os casos de contaminação são raríssimos e precisa haver exposição de mucosa ou cortes abertos.

10) Colo e cordão. Assim que o bebê nascer, pegue delicadamente e coloque sem pressa sobre o colo da mãe. Pegue uma toalha ou roupa seca e passe no bebê delicadamente, para tirar o excesso de líquidos. Nesses primeiros seguntos não se preocupe se ele respira ou chora. Apenas deixe o cordão ligado, a placenta ainda estará dentro do útero, ligada a uma extremidade do cordão, e a outra estará presa ao bebê. Não mexa no cordão. Não é o corte que faz o bebê respirar.

11) O bebê. Avalie o bebê. Se ele se mexe, faz caretas, se está ficando rosado, ainda que não esteja chorando, ele está bem. Se ele chorar, ele está excelente. Se ele estiver com aspecto de "desmaiado", estimule as suas costas com vigor (sem machucar), ao longo da coluna. Se ele continuar com esse aspecto, sem tônus muscular, será necessário uma respiração boca-a-boca, suave, com pouco volume de ar. Duas ou três insufladas de ar e ele estará respirando por conta própria. A chance de você precisar ajudar o bebê a respirar é de uma em cem. A técnica consiste em cobrir a boca e o nariz do bebê com a sua boca, e insuflar o volume de ar que cabe na sua boca (e não o volume dos seus pulmões). Insuflar uma vez e aguardar dois segundos antes de insuflar novamente. Se o bebê esboçar movimentos ou tossir, já estará provavelmente começando a respirar sozinho. Observe os movimentos do peito.

12) Vínculo. Tão logo o bebê esteja no colo da mãe, e seco, proteja-os com uma coberta, um casaco, ou qualquer coisa que possa cobrir pelo menos o bebê. O contato pele a pele ajuda a manter o recém-nascido em boa temperatura corporal. Deixe a mãe deitada ou semi sentada com ele sobre ela.
Aos poucos o bebê vai começar a mover a boca e a procurar o peito para mamar. Ajude a posicionar a mãe melhor, se necessário, para que ela consiga manipular o bebê. Se conseguir almofada ou panos enrolados para apoiar seu braço, melhor ainda! Quanto antes a amamentação se iniciar, antes a placenta vai sair. Estimule o acompanhante, se presente, a participar desse momento de vitória e superação.

13) Placenta. Após parto as contrações continuam mais leves e menos dolorosas, mas promovem o descolamento da placenta. Conforme o útero contrai e a placenta descola, ela será empurrada pra fora, como aconteceu com o bebê. É normal a saída de quantidade moderada de sangue nesse processo, algo por volta de dois copos de sangue. Se começar a perceber jatos de sangue, uma hemorragia pode estar ocorrendo. Se a mãe tiver sintomas, fraqueza, tontura, lábios brancos, coloque-a na horizontal com pernas elevadas e faça massagem vigorosa na barriga, onde está o útero, até que este contraia. Faça massagem com vigor, como quem sova um pão. É importante sentir o útero endurecer sob a barriga. A essas alturas é bem provável que a ajuda já tenha chegado e possa cuidar da continuidade dessa hemorragia. Enquanto não chegarem, continue a massagem vigorosa.

14) Fim. Não corte o cordão em nenhum momento. Mantenha a placenta junto do bebê em um saco plástico, ou qualquer tipo de embalagem. Mantenha mãe e bebê aquecidos. Aguarde até que a equipe de assistência chegue antes de colocar a mãe em pé, pois ela pode sentir-se fraca e até desmaiar. Se precisar transportar a mãe por alguma razão, faça com ela deitada ou sentada em uma cadeira com rodas. Evite que ela faça grandes caminhadas, por causa do sangramento. Após repouso e avaliação, será decidido pela transferência ao hospital ou permanência em casa com visitas da equipe.

Parabéns, você fez um ótimo trabalho!
Comece a pensar em se profissionalizar!"

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Ultrassom em excesso pode prejudicar a formação do cérebro


O seu obstetra lhe manda fazer ultrassom todos os meses, mesmo sua gravidez sendo de baixo risco? 
Você fica chocada com suas amigas que tem médicos humanizados que quase não pedem este tipo de exames e inclusive acredita que eles não estão sendo cuidadosos?
O texto a seguir pode lhe fazer rever seus conceitos.

"(...) O primeiro é miraculoso: aquele que nos mostra um projeto de gente em nosso ventre, coraçãozinho já formado, batendo acelerado. Esse confirma que a gravidez é uterina – ou denuncia uma gravidez tubária, que precisa ser rapidamente abortada para não colocar em risco a vida da mãe. Os seguintes, sempre solicitados pelo médico, revelam a boa formação do cérebro e de outros órgãos do corpo, e mais tarde atestam a saúde da placenta ou acusam seu envelhecimento precoce e mostram se a posição do cordão umbilical exigirá algum cuidado especial no parto.

Recentemente, contudo, a facilidade de fazer ultrassonografias popularizou os exames eletivos, como os tridimensionais em alta resolução, “para ver o rostinho do bebê”. Há até quem compre seu aparelho portátil, “para monitorar o bebê o tempo todo” – o que foi o caso de Tom Cruise durante a gravidez de sua mulher, Katie Holmes, processo acompanhado sem trégua pela mídia. Tais exames, segundo alguns sites, seriam “completamente isentos de malefícios” e, portanto, poderiam ser feitos “à vontade”.
Mas qualquer pessoa diz qualquer coisa na internet, e a verdade é um pouco diferente. O exame de ultrassonografia expõe o embrião ou feto a uma rajada de ondas mecânicas de alta frequência, usadas em laboratório para dissociar e até matar células. Por isso, Pasko Rakic, um dos maiores especialistas no desenvolvimento pré-natal do sistema nervoso, suspeitou que o exame não fosse tão inofensivo assim.
Em um estudo publicado em 2006, Rakic mostrou que, aplicada a fêmeas prenhes de camundongos em condições comparáveis às dos exames feitos em humanas, a ultrassonografia pode, sim, prejudicar a migração dos neurônios que formarão o cérebro dos filhotes. Até 15 minutos de exposição ao ultrassom não têm efeito detectável: sem a ultrassonografia, apenas 5% dos neurônios em migração do local onde nascem até seu destino no córtex cerebral ficam dispersos pelo caminho, como que perdidos ou atrasados. Mas com 30 minutos de exposição total ao ultrassom, a porcentagem de neurônios fora da rota sobe para 9% e vai aumentando com o tempo de exposição até um máximo de 19%, com a maior exposição ao ultrassom no estudo: 7 horas.
O efeito é pequeno. Além disso, ainda não se sabe se tem conseqüências detectáveis sobre os fetos examinados e certamente não é razão para você ir correndo cancelar seu exame ou impedir que sua filha ou irmã façam os seus. Anos e anos de ultrassonografia durante o pré-natal confirmam que riscos eventuais de uma exposição pequena valem os benefícios oferecidos à mãe e ao bebê pelos exames feitos por razões médicas, que mantêm a exposição ao mínimo necessário.
O importante, contudo, é reconhecer que a ultrassonografia não é “completamente isenta de malefícios”: ela pode, sim, prejudicar a formação do cérebro, e, quanto maior for a exposição do feto ao ultrassom, maior será o risco de sua formação ser perturbada, sobretudo em exames tridimensionais de alta resolução, que empregam ultrassons mais fortes. Por maior que seja a curiosidade, ultrassonografia não é fotografia e deve ser usada, como os remédios, com bom-senso e orientação médica."Ultrassom em excesso pode prejudicar a formação do cérebro.
Pasko Rakic foi orientado pelo advogado de sua universidade, a Yale, a não responder a e-mails de gestantes perguntando se deveriam ou não fazer os exames pedidos pelo médico nem dar declarações à imprensa. Mas ficou feliz em saber que, por causa de seu estudo, Tom Cruise voltou atrás: a pequena Suri não foi bombardeada desnecessariamente por ondas de ultrassom durante a gestação."

Fonte: "Scientific American. Mente e Cérebro" no Portal UOL
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/tecnicas_permitem_ver_o_rosto_do_bebe_durante_a_gravidez.html

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A importância de um obstetra cuidadoso


Quando engravidamos, entramos em um mundo totalmente novo e desconhecido. As mudanças vividas não ocorrem somente no corpo da gestante, mas na relação desta com o parceiro, nos assuntos das conversas com os amigos, nas expectativas e planos para a vida. Eu tenho uma amiga que comentou uma vez, que estava grávida e monotemática, pois tudo na sua vida girava em torno deste momento que vivenciava, a gravidez. Acredito que isto aconteça com muitas mulheres.

Além da internet, que felizmente e infelizmente é uma fonte vasta de conhecimento e um dos primeiros recursos que a gestante busca para satisfazer suas dúvidas, outra fonte que a família busca é o obstetra. Além destes, as parteiras e doulas também são fortemente consultadas e de importância primordial, entretanto este post tem o objetivo de conversar um pouco sobre a assistência do obstetra, e a suma importância deste ser um profissional cuidadoso.

O poder que os médicos, em geral, tem na nossa cultura é algo espantoso. Muitas mulheres (e também homens) se colocam nas mãos destes, sem contestar, e tudo que é falado por eles é prontamente atendido. O médico que sabe, o médico que resolve, o médico quem fez meu parto.

O problema é que muitos médicos realmente se sentem donos do parto da mulher, donos inclusive da própria mulher, e as violentam - com palavras, com intervenções, com absurdos - quando estas tentam argumentar sobre qualquer conduta. Este tipo de médico falará que "conversam sobre o parto depois", ou ainda que "pode deixar que do parto sei eu", deixando a família totalmente à merce de sua vontade e poder.

Existem, obviamente, muitos profissionais que são respeitosos, e tantos outros que tem boas intenções mas que quando se sentem amedrontados com alguma coisa no parto (circular de cordão, mecônio, bebê sentado, pós-datismo, etc etc etc) preferem operar prontamente. 

Quando a gestante encontra um obstetra acolhedor, que satisfaz suas dúvidas, que se coloca à disposição e que sabe que o protagonismo do parto é da mulher e não dele, ela se sente muito mais forte e parir se torna possível. Não porque será "permitido" pelo obstetra, mas porque ele também confia nas suas potencialidades e isso faz com que a própria mulher passe a confiar nela mesma.

O papel do obstetra no parto, é guardar o ambiente, é permitir que o processo ocorra naturalmente e em muitos momentos é não fazer nada. Sendo que fazer nada, neste caso, é tudo que a mulher precisa. Não se contrata um obstetra, portanto, para acompanhar seu parto e fazer mil intervenções que te "ajudem" a parir, mas sim alguém que confie também em você, e que lhe acompanhe, agindo e intervindo somente se necessário.

Dr. Pablo no parto da Pri e do David (e da Clara!)

Hoje é aniversário de uma obstetra amorosa e respeitosa, que compreende a importância do nascimento dos bebês por parto normal e também do renascimento das mulheres que vivenciam este momento. Uma obstetra, como outros em Florianópolis (Dr. Marcos Leite, Dr. Pablo de Queiroz, Dr. Fernando Pupin, Dra. Mônica Bueno, Dra. Juliany Silva), que sabe esperar, que não se desespera facilmente e que pratica obstetrícia baseada em evidências. Alguém que confia nas doulas e que reconhece a importância do trabalho delas e desta parceria.

Feliz aniversário Dra Roxana Knobel, uma obstetra cuidadosa, que merece todo o amor no mundo!

Carol, Theodoro e Rox (31/01/2013)

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

5 razões para atrasar o primeiro banho do recém nascido



Existem muitas razões para não dar banho no recém-nascido nas primeiras horas ou até dias após o nascimento. Muitos hospitais parecem ter urgência em dar o primeiro banho no bebê, mas é direito dos pais decidirem quando e quem irá dar o primeiro banho. Existem vários benefícios em prorrogar este evento e saber das vantagens pode fazer com que os pais decidam aguardar.

1- Bebês nascem com uma proteção natural da pele

No útero, os bebês têm a pele protegida do ambiente aquoso no qual se encontram por uma substância especial, chamada vérnix. Quando o bebê nasce, sua pele pode estar coberta por uma substância semelhante a uma cera branca, sendo que alguns bebês têm bastante e outros não muito. Os bebês tendem a perder o vérnix enquanto a gravidez se estende, portanto bebês que nascem com 42 semanas podem não ter mais vérnix visível, entretanto usualmente têm algum escondido nas camadas de pele e embaixo das axilas. Os bebês nascidos antes normalmente tem uma quantidade maior. Novas pesquisas indicam que o vérnix tem propriedades imunológicas e que se deixado na pele provê uma camada de proteção enquanto o sistema imune do recém nascido vai se desenvolvendo. Este é um grande benefício especialmente para bebês nascidos no hospital, que são expostos a possíveis infecções hospitalares. Vérnix também é o melhor hidratante e ajuda a pele do bebê a ficar macia e maleável.

2- Bebês querem ficar perto de suas mães

Após o nascimento, o recém nascido quer ficar perto da mãe e de seu peito o máximo de tempo possível. Acolhido no peito, perto da fonte de alimento, é onde ele pode ouvir e sentir o som da voz da mãe, além de manter contato pele-a-pele: este é o maior recurso de proteção para o bebê. Estar perto do seio da mãe ajuda a promover o aleitamento, e configura uma transição mais suave para a vida fora do útero. Quando levam o bebê para longe de sua mãe, logo após o nascimento, com o propósito de dar banho, pode fazer com que o processo de conhecimento entre mãe e bebê seja quebrado, e isto interfira nos primeiros e valiosos momentos da amamentação.

Isabel, Gustavo e o pequeno Caio após seu nascimento
3- Diminuição da temperatura corporal do bebê

Bebês recém nascidos ainda estão aprendendo a manter sua temperatura corporal. Quando se tira um bebê de perto da mãe e do calor do seu corpo para o banho, pode resultar em o bebê ter que se esforçar muito para manter a temperatura corporal na temperatura ideal. Existem bebês, inclusive, que precisam ser colocado em berços aquecidos após o banho para levantar a temperatura do corpo. O peito da mãe é o local perfeito para manter a temperatura corporal do bebê ideal.

4- Mantêm os hormônios estressores em níveis baixos e a glicose normalizada

Ser separado da mãe pode trazer estresse para o bebê, que recém estão se habituando com a vida fora do útero. Quando levado para o banho logo após o nascimento, o bebê pode chorar e se sentir desconfortável. Isto faz com que seu corpo produza hormônios estressores, na resposta a esta situação. Os batimentos cardíacos e pressão sanguínea também podem aumentar, fazendo com que o bebê fique agitado e respire mais rápido. Para responder a esta situação de estresse, o corpo pode diminuir temporariamente os níveis de açúcar (glicose) no sangue. Caso a glicose do bebê esteja sendo monitorada em decorrência de uma diabetes gestacional, e houver esta diminuição, pode ser prescrita a introdução de leite artificial para normalizar os níveis de açúcar no sangue. Quando o bebê permanece com a mãe, ele tem melhores condições de regular todo seu sistema e manter seus níveis de glicose normalizados.

5- Um banho com a mamãe e o papai parece uma boa idéia

Como o bebê se sente mais seguro quando está perto dos pais, o primeiro banho deveria ser com eles, quando eles estiverem prontos. O banho do recém nascido dado pelos pais, tendo o contato com a voz e com o toque deles, é uma maneira maravilhosa de ter o primeiro banho. O bebê se sentirá seguro e amado e não precisa ser separado dos pais nos primeiros dias. Também é uma boa idéia tomar o primeiro banho junto com o bebê, caso o casal tenha uma banheira em casa. É importante, neste caso, que tenha alguém para segurar o bebê fora da banheira pois eles são muito escorregadios quando estão molhados. Quando a mãe e o pai dão o primeiro banho no bebê, com toda a calma e amor que o processo requere, ajudam a criar boas memórias do evento.

Existem muitos benefícios em atrasar o banho do recém nascido até que os pais se sintam prontos para participar deste momento. Não existe nenhuma razão médica que indique que o recém nascido deva ser banhado nas primeiras horas ou dias do nascimento.
Referências:
Loring, C., Gregory, K., Gargan, B., LeBlanc, V., Lundgren, D., Reilly, J., . . . Zaya, C. (2012). Tub bathing improves thermoregulation of the late preterm infant. J Obstet Gynecol Neonatal Nurs, 41(2), 171-179. doi: 10.1111/j.1552-6909.2011.01332.x
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Preer, G., Pisegna, J. M., Cook, J. T., Henri, A. M., & Philipp, B. L. (2013). Delaying the Bath and In-Hospital Breastfeeding Rates. Breastfeed Med. doi: 10.1089/bfm.2012.0158
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Este texto foi traduzido e adaptado por mim de um site sobre maternidade, em inglês. Disponível em:

http://pregnancy.about.com/od/hospital/ss/6-Reasons-To-Delay-Babys-First-Bath.htm

Obrigada por acompanhar!