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sábado, 16 de abril de 2016

A influência da chupeta na amamentação


Quando nasce um bebê, nasce uma mãe e um pai. Todos inexperientes, aprendendo diariamente os novos desafios trazidos pela maternidade. Entretanto, percebo que há uma cobrança muito grande para que as coisas fiquem "tranquilas" logo. Há uma ansiedade para que o bebê imediatamente aprenda a mamar, a dormir, a viver neste mundo. Além disso, os pais também estão aprendendo a identificar as necessidades do bebê e este processo só terá sucesso se estes puderem ter tempo para observar seu bebê, com calma e paciência.

Vamos lembrar o seguinte: durante nove meses (até um pouco mais em alguns casos) a vida do bebê acontece no útero. Todas suas necessidades eram satisfeitas quase que imediatamente. A vivência do som e luminosidade era diferente, não existiam cheiros.

Quando o bebê nasce, ele tem que aprender a se esquentar sozinho, a mamar, a dormir, a respirar, a viver em um mundo com barulhos, claridades e odores que antes ele desconhecia. E por isso o bebê chora. Chora muito, principalmente quando deixado para dormir no berço ou carrinho ou qualquer lugar que não no aconchego do colo da mãe. Me refiro neste momento ao colo da mãe, em específico, pois é nele que está o maior amor da vida do recém nascido: o peito!

A amamentação supre muitas necessidades do bebê, que não se restringem somente à nutrição e satisfação de sede. É no peito que o bebê se sente protegido, acolhido, quente, feliz!

A indústria criou a chupeta para dar à família uma forma de acalmar o bebê, já que os outros membros não possuem seios e leite. Entretanto, uma coisa tão pequena que foi inventada- supostamente - para ajudar é, em muitos casos, um enorme vilão. A chupeta não é inofensiva e pode atrapalhar a amamentação. A prática é desaconselhável pois reduz o tempo de sucção das mamas, o que é importante para a livre demanda e produção do leite. É importante que o bebê mame muito, principalmente durante os primeiros dias. Isto é o que ajudará no estabelecimento da amamentação, na produção do leite, além de maturar o sistema digestório do bebê que ainda é imaturo. O uso de chupetas pode representar fontes de contaminação, além de alterar funções de mastigação, sucção e deglutição.

A confusão de bicos também favorece à interrupção do aleitamento materno. O bebê que usa chupeta pode querer fazer o mesmo com o bico do seio, o que leva a fissuras e pode acarretar problemas posteriores na amamentação.

As famílias em geral não percebem um problema, pois o bebê se acalma chupando o bico, sendo que muitas vezes a prática é recomendada inclusive na maternidade. Já ouvi inúmeras histórias das técnicas de enfermagem que, se compadecem com choro das primeiras madrugadas, e sugerem a chupeta como uma forma de acalentar a criança. É necessário mais esclarecimento à famílias, bem como profissionais de saúde sobre os efeitos prejudiciais da chupeta sobre à amamentação e saúde do bebê. 

Se a natureza criou um bebê com grande necessidade de sucção, e uma mamãe que para produzir o leite depende do estímulo desta sucção no seu seio (além de outros fatores), claramente a inserção das chupetas pode interferir neste processo, e os estudos apontam que de forma negativa.

Talvez mais importante ainda que esta discussão seja os pais se perguntarem:

Por que meu filho precisa da chupeta?


Será que ele realmente precisa ou será que sou eu quem estou cansada, indisponível ou ansiosa para lidar com o choro ou processo da amamentação?

Ele se acalma quando está no meu colo?

Estou descansando quando o bebê dorme? 

É normal se sentir cansada no início. Na realidade seria anormal se não estivesse. Em 8 anos trabalhando como doula nunca vi uma puérpera que não estivesse cansada. É igualmente natural ter dúvidas e sentir-se insegura nos primeiros meses de vida do bebê, entretanto adotar a chupeta pode aparentemente "resolver" um problema imediato mas levar a preocupações mais graves, como o desmame. 

Paciência, amor e harmonia entre a família neste início são fundamentais!

No caso de problemas na amamentação, peça ajuda! Procure uma consultora! Eu mesma me coloco à disposição para fazer uma consulta domiciliar ajudar no processo ou mesmo online (mande um e-mail para cm.horn@gmail.com).

Querida mãe: Força, respire fundo e repita o mantra: tudo vai passar! Porque passa mesmo! Quando menos esperar o bebê já esta correndo e tendo amigos e com outros interesses diferentes do que o seu colo e aconchego do peito!

Fonte: imagens google




Referências

Pellegrinelli, Ana Luiza Rodrigues, Pereira, Simone Cardoso Lisboa, Ribeiro, Iêda Passos, & Santos, Luana Caroline dos. (2015). Influência do uso de chupeta e mamadeira no aleitamento materno exclusivo entre mães atendidas em um Banco de Leite Humano. Revista de Nutrição28(6), 631-639. https://dx.doi.org/10.1590/1415-52732015000600006

Lamounier, Joel Alves. (2003). O efeito de bicos e chupetas no aleitamento materno. Jornal de Pediatria79(4), 284-286.https://dx.doi.org/10.1590/S0021-75572003000400004


quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Depoimento: Ciclo de uma gestação sob cuidados da minha querida doula Carol

 Hoje o post do blog é especialíssimo: um depoimento de uma cliente sobre como foi seu acompanhamento com uma doula.
Para mim, ouvir minhas clientes é sempre um presente! Quando elas me dão o privilégio de postar um depoimento tão bacana assim, fico lisongeada! Obrigada  Fê e Gilson pela linda oportunidade de estar com vocês!

Aproveitem o relato abaixo!


















"Quando me perguntam o que é doula, penso em como e quanto a Carol foi importante em todo processo do nascimento do nosso primeiro filho - o Gabriel.
 
Aí explico que ela não só nos acompanhou no dia do parto, mas também durante grande parte da gestação - desvendando nossas dúvidas, medos e expectativas em relação ao parto natural.
Como mulher, me ensinou o significado da palavra "emponderamento" - me tornar confiante e forte em minhas decisões, em especial à busca do conhecimento - que foi ele o principal para que soubesse que sairia tudo bem e que o Gabriel viria da melhor forma possível, afinal, não buscávamos apenas um parto.

Foram muitas sessões, entre idas e vindas para Floripa, minha terra natal, em busca de um parto que completasse um ciclo de vida - sim, sempre quis parto normal, e acreditava que fosse possível, embora atualmente são inúmeras as "desculpas" para se fazer uma cesária. E não queria um parto tradicional - queria um parto que respeitasse o momento do meu filho, meu corpo e que cuidasse dos meus sentimentos. E o principal: que ao nascer, ele viesse direto pro meu colo!

As semanas finais da gravidez foram se aproximando, e com 37 semanas e alguns dias, decidi ficar em Florianópolis para esperar a hora em que meu filho mostrasse que era hora dele nascer.
E a Carol sempre pronta pra me escutar e proteger, nessas últimas semanas de ansiedade, acompanhando cada sinal do meu corpo. O Gilson ficou em Floripa de vez nas 40 semanas, e a cada dia a expectativa aumentava. E mesmo quando o Gilson estava longe e eu com medo que ele não estivesse presente, a Carol me tranquilizava que o bebê só viria com a presença do papai, que eu era poderosa até em relação a isso.

Quando o obstetra disse que possivelmente iria pras 42 semanas, a Carol nos incentivou a ter uma baby moon na Praia do Rosa, ja que tínhamos hospedagem paga e que se sentisse alguma contração era só voltar. E lá fomos nós curtir um final de semana perfeito entre baleias dando show no mar, caminhada e conversas com o Gabriel, dizendo que estávamos prontos para a chegada dele! E todo mundo me achando louca em ter ido "nessa situação" - "vai que nasce na pousada ou dentro do carro ou que tenha que ter no hospital do Rosa sem teu médico!!" Que nada, o efeito emponderamento de saber exatamente quais sinais meu corpo estava dando e a possibilidade de poder contar com a Carol caso ficasse em dúvida me deixaram segura. Mesmo assim ela me mandava mensagens diárias pra saber como eu estava me sentindo.

41 semanas e o que sentia era a barriga endurecer seguida de poucas cólicas, que desapareciam com o passar do dia. E a Carol explicando que ainda não era trabalho de parto, e especialmente tirando todas as dúvidas do papai Gilson, sempre companheiro.
Durante a última semana foram muitos falsos sinais de trabalho de parto. E a Carol sempre preocupada em avisar onde estaria, na maior disposição e proteção.
Quando completamos 42 semanas exatas, as contrações tomaram ritmo. E ela veio até a casa dos meus pais para me acompanhar, olhando nos meus olhos e dizendo que enfim, estava chegando a hora.

Nos acalmou e pediu que o Gilson controlasse o tempo entre as contrações e como eu estava me sentindo, pedindo que ele a chamasse quando fosse a hora de ir para a maternidade.
Ela veio no início da madrugada, me analisou e me levou até a clínica, chamando meu obstetra - o Dr. Marcos Leite, que me examinou e constatou que apesar do ritmo intenso das dolorosas contrações, eu tinha apenas 1 cm de dilatação... Talvez ela tenha visto nos meus olhos a preocupação, ou frustração, mas me levou para subir escadas e caminhar pelo estacionamento, já que ficar parada não aceleraria o processo, apesar de todo cansaço que eu já sentia.

E ela praticamente me carregou, com palavras de incentivo, lembrando o quanto eu gostaria de estar passando por tudo aquilo. Ela e o Gilson foram anjos protetores. Quando eu já não conseguia mais caminhar, a Carol me levou pra banheira quentinha e acolhedora, onde a lua cheia - linda - me deu energia para enfim entrar na partolândia. Ela não esqueceu nenhum detalhe de tudo que contei pra ela em como imaginava aquele momento! Colocou as músicas que eu deixava tocando para o Gabriel dentro da barriga - MPB Baby Beatles, U2, Coldplay... E ela sempre acompanhando em como nos sentíamos, olhando nos meus olhos e dizendo que eu estava indo muito bem.

Foi quando enfim senti a bolsa estourar dentro da água - um alívio e uma sensação de querer fazer força. Ela chamou o Dr Marcos, que veio com a boa notícia - 9 cm de dilatação!
Aí a Carol me ajudou a encontrar a melhor posição para a chegada do meu bebê, que veio para meu peito as 5:34hs da manhã, de cócoras na cama. Ela esteve durante toda a madrugada conosco, em cada minuto. E lembrou, mesmo cansada, de dar em minhas mãos, o cordão umbilical pulsando. Momento lindo, que me fez esquecer qualquer dor. Com o Gabriel acolhido no meu peito, sentindo o cordão que nos unia, ela ainda tirou fotos.

Me mimou, cuidou de mim, e me levou pro quarto.

O que veio depois? O cuidado com a amamentação - que até hoje, depois de 42 dias, continua perfeita - e o cuidado com a bagunça hormonal do puerpério, que me trouxe uma insegurança que eu não sabia que sentiria.

E se me perguntam hoje o que é doula, não consigo definir com poucas palavras, porque ela foi tudo isso para nós, e hoje só trago carinho por ter tido uma profissional tão humana que cuidou tanto dos nossos sentimentos.

Obrigada Carol, o mundo precisa de pessoas como você!

Com todo carinho, deixo meu depoimento sobre teu trabalho! Com certeza quem mais agradece é o Gabriel, que nasceu cheio de saúde e forte - no momento dele!

Beijos dos amigos,
Fê, Gilson e Gabriel"


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A importância da dança na gestação


O post de hoje fala sobre a importância da dança na gestação. Quem escreve para nós é a doula e bailarina Juliana (Jufih). Ao fim do post, um vídeo maravilhoso dela dançando durante sua gestação!

Dançar na gestação
Quando carregamos um novo ser, contemplamos o corpo, o próprio, em plena transformação e o do bebê, em constante desenvolvimento, crescimento e movimento. Conseguir momentos especialmente para admirar, perceber e entrar em contato com tanta riqueza de emoções, formas, sensações e se comunicar com toda mudança que está acontecendo e que ainda está por vir é muito importante para promover o bem estar, segurança e o empoderamento na gestação. Para além dos benefícios físicos de se dançar na gestação, não menos importantes é claro, como: diminuição dos desconfortos e dores no corpo, melhora na circulação, fortalecimento do assoalho pélvico, aprofundamento da respiração, melhor funcionamento dos sistemas em geral; percebe-se que dedicar alguns momentos nesta atividade traz confiança no processo natural da gestação, parto e pós-parto. Isto acontece pois a dança nos coloca em profundo contato com nós mesmos, com o que sentimos, o que acreditamos, o que desejamos e o que imaginamos. Nos re-conecta com o corpo, que agora se modifica pouco a pouco, precisando ser re-descoberto a cada instante! O movimento é intrínseco a gestação, é quando nosso corpo e o do bebê estão em constante harmonia, de acordo com a música interna dos fluídos, coordenados pelos pulmões e o coração, aliás, corações! É a dança da vida frutificando! Os movimentos de quadril são especialmente benéficos, pois fortalecem a região pélvica e na hora do parto facilitam a descida do bebê, por exemplo, além de auxiliarem no controle da sensação de dor provocada pelas contrações. Além do quadril, movimentar a caixa torácica também ajuda a expandir a respiração, a auxiliar o bebê a se re-posicionar quando fica em posição incomoda para a gestante (os famosos pés nas costelas) e a pegar fôlego na hora de empurrar o bebê no período expulsivo do trabalho de parto. Com a percepção corporal apurada, fica mais fácil e prazeroso lidar com toda transformação que a gestação, parto e o puerpério provocam em nós. A dança possibilita este contato. E mais ainda: é uma oportunidade de compartilhar com outras gestantes e construir uma rede de apoio. Juliana (Jufih) - Gerar e Nutrir



terça-feira, 16 de setembro de 2014

Uma história de amor na gestação através da dança


Hoje irei compartilhar com vocês uma história de amor através da poesia e da dança.
Conheci Ana ainda adolescente, éramos do mesmo grupo de amigos mas nunca havíamos conversado muito. Ela estava nos seus primeiros anos de namoro com o seu atual marido Elton. Nos reencontramos no chá de bebê de uma cliente e amiga, a Melissa.
Quando soube que ela dançava dança do ventre, fiquei muito contente porque sei os benefícios da dança para a gestante (logo no blog um texto sobre isto!). Mas foi quando soube que ela se apresentaria, com aquele barrigão lindo, que eu fiquei radiante!

O post de hoje é a história de amor de uma mãe com seu filho, ainda não nascido, mas extremamente presente e amado!

"Depois de mais de um ano preparando esse espetáculo, finalmente tinha chegado o dia. Tivemos até que mudar de data, porque foi durante o planejamento que descobri que eu estava grávida. Tive que abrir mão de várias coreografias e me concentrar em poucas, porque sabia que iria dançar com 33 semanas e já ia estar com um barrigão.

A nossa professora e coreógrafa tinha me pedido pra fazer uma transição entre duas coreografias, uma música curtinha, mais pra dar tempo de troca de figurinos mesmo. Ela me sugeriu uma música que gostei logo de cara e comecei a ouvir muito. Essa pequena transição começou a se transformar e logo entrou na lista de coreografias como um solo. 

Como seguia a proposta do espetáculo, escrevi uma poesia para o sentido que eu queria dar à dança.Em um momento de inspiração, me concentrei no meu filho e escrevi pra ele. Escrevi do meu amor por ele. Foi assim que nasceu a poesia Celebração, que acompanhou a dança no dia do espetáculo.

Naquele dia, na coxia, com as velas acesas, esperando minha música começar pra eu entrar, o locutor leu a poesia. Um nó me veio à garganta, uma vontade de chorar, mas respirei fundo e entrei no palco e o iluminador deixou a luz mais baixa, introspectiva. Naquele momento não existia mais ninguém no mundo, só eu e o Francisco. Dancei de improviso, sentindo o momento, celebrando a vida dele, como diz a poesia. Uma calma me veio e me senti muito bem, poderosa e linda. Foi daqueles momentos que parecem passar tão rápido, e ao mesmo tempo durar uma eternidade. Esqueci do tempo e de tudo e quando a música acabou é que lembrei onde eu estava. Ouvi as pessoas batendo palmas e gritando, as luzes se apagaram e minhas pernas voltaram a ficar bambas pra sair do palco. Respirei fundo e recebi alguns abraços nos bastidores, mas corri pra trocar de roupa pra próxima coreografia.

Foi no dia seguinte que senti as dores musculares de quem está com 10 quilos a mais. Foi no dia seguinte que vi algumas fotos que os amigos tiraram e foi aí que veio a emoção. Chorei de felicidade. Fiz uma homenagem linda a meu filho: dancei pra ele, celebrei sua vida."


Ana e Francisco - foto por Sérgio Surkamp


Celebração

"Hoje celebro tua vida, porque hoje não há mais distinção entre o que sou eu e o que és tu. Tua existência é a razão do meu viver. Enquanto eu era somente eu, não sabia que poderia existir esse sentimento. Teu toque me faz sentir viva. Tua presença me encoraja. Todo meu ser só existe por ti, só faz sentido porque estás aqui. MEU FILHO, te amo, sou tua. Minha vida é tua, meu corpo é teu. Danço para ti, porque meu corpo é CELEBRAÇÃO da tua vida!"

domingo, 14 de setembro de 2014

A importância do acompanhamento da gestação, parto e pós parto!


Conversando na sexta-feira sobre parto, gestação e puerpério com alguns amigos confirmei como é importante a informação e suporte. Uma doula respira gestação, parto e puerpério, e estes assuntos acabam sempre nas rodas de conversa e mesas de bar, o que é ótimo porque é impressionante a falta de informação que as pessoas normalmente tem sobre o assunto. 

Não são somente os homens que, antes de engravidar, não imaginam o universo de saberes diferentes que envolvem o ciclo gravídico puerperal: muitas mulheres também desconhecem.E muito provavelmente, é pelo desconhecimento que temem o parto normal, a amamentação e muitas vezes a própria maternidade.

Depois de algumas horas conversando, as duas mulheres que estavam comigo, seguras anteriormente que queriam cesáreas para não passar pelo sofrimento, estavam começando a pensar diferente. Pelo menos a dúvida foi plantada, e a promessa de estudar mais firmada. Uma promessa delas com elas mesmas, obviamente, e não comigo, porque a escolha de parto ou cesárea compreende a elas e aos seus companheiros.

O acompanhamento da gestação, do parto e do puerpério ajuda as famílias a se sentirem mais seguras. É através do suporte dado que elas desenvolvem o seu auto-suporte, sentindo-se confiantes e poderosas para enfrentar os desafios. O parto é só o primeiro deles, ainda virão muitos pois toda a experiência nova - como a própria maternidade - sempre vem recheada de alegrias e desafios.

Se você está gestando ou pretende estar, converse com uma doula. Peça indicações de obstetras humanizados, que entendem de parto normal e que não temem o processo. Que podem deixar o poder de parir, de gestar, nas suas mãos, que confiam em você e na sua possibilidade natural de parir, e que ao mesmo tempo são conscientes do seu papel como cuidadores da sua gestação. Busque vídeos de experiências reais de parto, que mostrem todo o amor que envolve o processo, e não somente àqueles em que as pessoas sobem nas barrigas e fazem episiotomias sem respeitar a mulher. De desgraça o mundo - e o google - estão cheios, e estes não ajudarão no seu processo de empoderamento para o parto. Te deixarão mais insegura, e alimentarão os seus fantasmas. 

Tenha um acompanhamento, tire suas dúvidas, procure e desconfie de tudo que desmereça o seu potencial. As pessoas que trabalham com isso, fazem porque amam demais e certamente muitas se disponibilizarão para lhes ajudar com as inseguranças e dúvidas. 

Para finalizar este post, peço um colorido especial para as minhas (e meus) clientes que lerem. Gostaria que vocês comentassem abaixo, como a experiência de um acompanhamento as ajudaram na gravidez, parto e pós-parto. Dia 20/09 é meu aniversário, e este será o maior presente que vocês podem me dar.

Obrigada, desde já, pelo carinho!

Rodrigo, Melissa, Henrique e eu - um quarteto fantástico!* 

*Obrigada por permitirem que eu abraçasse a sua experiência de maternidade/paternidade com tanto carinho e presença!

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Como atender um parto acidental (por Ana Cristina Duarte)

O texto a seguir foi escrito por Ana Cristina Duarte, obstetriz ativista da humanização do parto e nascimentos, e uma mulher incrível. Foi postado na sua página do facebook em 30 de agosto de 2014.

Trata de um texto de utilidade pública, com algumas dicas preciosas para assegurar a segurança e o processo de parto. Deve ser lido por todos e encaminhado principalmente para os taxistas, bombeiros, policiais, doulas, enfim, profissionais que poderão estar em contato com gestantes em trabalho de parto, e precisarem assistir ao nascimento de bebês.

O mais importante nesta situação é manter a calma, proteger a mulher (dos olhares curiosos, de ambientes gelados e claros, do estresse que pode estar acontecendo) e deixar a natureza agir o seu curso. O trabalho é passar segurança e confiança para que ela também passe a confiar no seu corpo e no processo do parto. 
Abaixo, indicações de como atender um parto acidental.

"Você é motorista de taxi, pega aquela corrida da madrugada, festa estranha de gente esquisita, a mulher gemendo, barrigão, oh meu deus, isso vai acontecer dentro do meu taxi!
Você é doula, chega na casa do casal para ver como estão as coisas, é o primeiro bebê, você acha que tem a madrugada toda pela frente, e encontra a moça no banheiro fazendo força, e já pensa: não vai dar nem pra chegar na garagem.

Você é policial, percebe aquele vuco-vuco debaixo do viaduto, comoção, que que está acontecendo? A roda se abre e a mulher está de joelhos no chão, olhar perdido, segurando a barriga proeminente e você na hora já sabe: esse vai ser meu primeiro parto.
E agora?

1) Ajuda. Para não incorrer em exercício ilegal de profissão, ou algo pior, chame o 192 ou 193 tão logo perceba que o bebê vai nascer ali e "peça" auxilío. Mesmo que você saiba o que fazer, mesmo que não sair dali seja opção da mulher, ligue e mantenha a ligação até que o "socorro" chegue ou que se chegue ao hospital. Essa ligação é gravada e será a base de qualquer defesa num eventual processo. Se a mulher ou você conhece médico ou obstetriz que possa acudir, chame imediatamente. (Colaboração Camila Perez - Pós graduanda em Direito Médico e da Saúde - OAB/SP 332276)

2) Adrenalina. A adrenalina é hormônio de fuga, e não de parto. Então acalme-se. Lembre-se que esses partos rápidos são em sua imensa maioria muito fáceis e tranquilos. Pense na incrível força da natureza que há por trás de uma gravidez e um parto de sucesso, e na potência que há em uma mulher dando à luz seu bebê. Pura potência. Pense nas suas ancestrais, pense nas parteiras que fazem o serviço sozinhas em choupanas e com apenas panos improvisados por anos a fio. Não há segredo no que está para acontecer, embora seja realmente grandioso. Vai dar tudo certo. A regra é a vida. Você não está ali para salvar ninguém, mas sim promover conforto e presenciar um dos mais sublimes eventos que a vida vai lhe proporcionar. Aproveite cada minuto com calma e tranquilidade. Assista maravilhado a vida explodindo.

3) Ocitocina. A mulher precisa da ocitocina para que o parto aconteça. Conecte-se com ela, transmita paz e calma. Olhe-a nos olhos, respire com ela e diga que está tudo bem e que você vai ajudá-la. Respire lentamente e ajude-a a se conectar, principalmente se ela estava assutada e as pessoas em volta ainda mais assustadas. Segure-a pelas mãos. Se há alguém com ela, diga que está tudo bem, para se acalmar que tudo vai dar certo e tudo está indo bem. Diga que ela é fantástica, que ela está fazendo tudo de forma esplêndida. Capriche nos elogios, porque ela realmente merece.

4) Espaço. Providencie espaço adequado. Panos no chão, um colchão, a cama forrada de toalhas, o banco do carro forrado com o que você conseguir. Se você é taxista, aliás, porque não leva um forro de plástico permanentemente no porta-malas? Compre na farmácia um pacote de lençol absorvente descartável e deixe sempre à mão. Se você estiver na rua, providencie privacidade para a mulher. Veja se alguém consegue lençol, cobertas, cortina, qualquer coisa que possa montar uma "cabana" ao redor dela e evitar o olhar de curiosos. Se estiver na calçada, veja se consegue levá-la ao estabelecimento comercial ou público mais próximo. Se está em casa no banheiro tire-a do vaso sanitário ou então forre com uma toalha esticada sob a tampa do vaso. Dessa forma se o bebê nascer, não cairá na água. Se possível, leve-a entre uma contração ou outra para a cama forrada. Se ela estiver no chuveiro, deixe-a lá. Apenas consiga toalhas para forrar o chão onde o bebê vai nascer.

5) Posição. Evite que ela fique deitada de barriga para cima. Essa é a pior posição para a oxigenação do bebê. Pode ser em quatro apoios, acocorada apoiada em alguma companhante, deitada de lado, ajoelhada e apoiada em alguém ou algo, ajoelhada na beira da cama, essas são algumas sugestões. Deixe-a mudar de posição livremente. As contrações vão empurrar o bebê e nos intervalos ela vai respirar, descansar, beber água e pode aproveitar para levantar, esticar as pernas, alongar o corpo. Não se preocupe se a mãe evacuar ou até mesmo se o bebê se sujar por causa disso. Essa "contaminação" não é prejudicial ou perigosa, de forma alguma. Essas bactérias são as que vão colonizar o aparelho digestivo do bebê para que ele digerir e absorver normalmente.

6) Conforto. Providencie coberta, almofada, apoio para a cabeça e pernas, tudo o que possa fazer ela se sentir mais confortável. Se ela estiver de calça comprida, pergunte se ela consegue tirar ou peça permissão para ajudar. Não tire a roupa à força. Não precisa tirar as outras peças de roupa, se ela estiver confortável. Se estiver em local público cubra e proteja de curiosos as partes íntimas com uma toalha, pano, camiseta, o que conseguir. Ainda que ela não solicite, ou não declare, até mesmo por falta de condições, ela sempre se lembrará desse gesto de elegância com gratidão. E o risco de um trauma pela exposição pública não é pequeno.

7) Força. Não precisa pedir para ela fazer força. Ela sabe o que fazer, o corpo fará tudo sozinho. As forças excessivas diminuem a oxigenação do bebê. Deixe o corpo dela funcionar. Os cabelinhos do bebê aparecerão pouco a pouco, e não há urgência alguma para que saia logo. Os bebês sabem sair por si próprios. Mesmo mudando de posição várias vezes, em algum momento o bebê vai sair.

8) De bumbum. Se o que você perceber saindo for um bumbum de bebê ou pezinhos, ajude a mulher a ficar em quatro apoios, mãos e joelhos no chão (ou na cama) e não faça mais nada. Não toque no bebê até que ele saia por completo. Deixe a força da gravidade ajudar. Nessa posição é importante que o bebê "caia" sobre a superfície. No máximo coloque uma toalha dobrada sob a mulher, onde o bebê vai cair (de pé ou sentado).

9) De cabeça. Após a saída da cabeça, se ainda estiver envolta pela bolsa das águas, rasgue-a com os dedos calmamente para que o bebê possa respirar. Aguarde o resto do corpo sair. Se o corpo não sair depois da contração seguinte, coloque a mulher em quatro apoios e peça para ela fazer muita força na próxima contração. Essa é a única hora em que fazer torcida organizada para as forças pode ser uma ótima ideia. Deixe o bebê sair sozinho, não puxe e não manipule. No máximo coloque suas mãos sob ele, para suavizar a aterrisagem. Se preferir, incentive o acompanhante a segurar o bebê enquanto você supervisiona. Se você não tem luvas, não conhece a mãe e não tem garantias de que ela não tem HIV ou Hepatite B, o melhor é você não tocar no bebê e nos líquidos do parto. Se precisar, use uma razoável camada de tecidos entre a sua mão e o bebê. Caso você entre em contato com alguma secreção, não entre em pânico. Os casos de contaminação são raríssimos e precisa haver exposição de mucosa ou cortes abertos.

10) Colo e cordão. Assim que o bebê nascer, pegue delicadamente e coloque sem pressa sobre o colo da mãe. Pegue uma toalha ou roupa seca e passe no bebê delicadamente, para tirar o excesso de líquidos. Nesses primeiros seguntos não se preocupe se ele respira ou chora. Apenas deixe o cordão ligado, a placenta ainda estará dentro do útero, ligada a uma extremidade do cordão, e a outra estará presa ao bebê. Não mexa no cordão. Não é o corte que faz o bebê respirar.

11) O bebê. Avalie o bebê. Se ele se mexe, faz caretas, se está ficando rosado, ainda que não esteja chorando, ele está bem. Se ele chorar, ele está excelente. Se ele estiver com aspecto de "desmaiado", estimule as suas costas com vigor (sem machucar), ao longo da coluna. Se ele continuar com esse aspecto, sem tônus muscular, será necessário uma respiração boca-a-boca, suave, com pouco volume de ar. Duas ou três insufladas de ar e ele estará respirando por conta própria. A chance de você precisar ajudar o bebê a respirar é de uma em cem. A técnica consiste em cobrir a boca e o nariz do bebê com a sua boca, e insuflar o volume de ar que cabe na sua boca (e não o volume dos seus pulmões). Insuflar uma vez e aguardar dois segundos antes de insuflar novamente. Se o bebê esboçar movimentos ou tossir, já estará provavelmente começando a respirar sozinho. Observe os movimentos do peito.

12) Vínculo. Tão logo o bebê esteja no colo da mãe, e seco, proteja-os com uma coberta, um casaco, ou qualquer coisa que possa cobrir pelo menos o bebê. O contato pele a pele ajuda a manter o recém-nascido em boa temperatura corporal. Deixe a mãe deitada ou semi sentada com ele sobre ela.
Aos poucos o bebê vai começar a mover a boca e a procurar o peito para mamar. Ajude a posicionar a mãe melhor, se necessário, para que ela consiga manipular o bebê. Se conseguir almofada ou panos enrolados para apoiar seu braço, melhor ainda! Quanto antes a amamentação se iniciar, antes a placenta vai sair. Estimule o acompanhante, se presente, a participar desse momento de vitória e superação.

13) Placenta. Após parto as contrações continuam mais leves e menos dolorosas, mas promovem o descolamento da placenta. Conforme o útero contrai e a placenta descola, ela será empurrada pra fora, como aconteceu com o bebê. É normal a saída de quantidade moderada de sangue nesse processo, algo por volta de dois copos de sangue. Se começar a perceber jatos de sangue, uma hemorragia pode estar ocorrendo. Se a mãe tiver sintomas, fraqueza, tontura, lábios brancos, coloque-a na horizontal com pernas elevadas e faça massagem vigorosa na barriga, onde está o útero, até que este contraia. Faça massagem com vigor, como quem sova um pão. É importante sentir o útero endurecer sob a barriga. A essas alturas é bem provável que a ajuda já tenha chegado e possa cuidar da continuidade dessa hemorragia. Enquanto não chegarem, continue a massagem vigorosa.

14) Fim. Não corte o cordão em nenhum momento. Mantenha a placenta junto do bebê em um saco plástico, ou qualquer tipo de embalagem. Mantenha mãe e bebê aquecidos. Aguarde até que a equipe de assistência chegue antes de colocar a mãe em pé, pois ela pode sentir-se fraca e até desmaiar. Se precisar transportar a mãe por alguma razão, faça com ela deitada ou sentada em uma cadeira com rodas. Evite que ela faça grandes caminhadas, por causa do sangramento. Após repouso e avaliação, será decidido pela transferência ao hospital ou permanência em casa com visitas da equipe.

Parabéns, você fez um ótimo trabalho!
Comece a pensar em se profissionalizar!"

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Ultrassom em excesso pode prejudicar a formação do cérebro


O seu obstetra lhe manda fazer ultrassom todos os meses, mesmo sua gravidez sendo de baixo risco? 
Você fica chocada com suas amigas que tem médicos humanizados que quase não pedem este tipo de exames e inclusive acredita que eles não estão sendo cuidadosos?
O texto a seguir pode lhe fazer rever seus conceitos.

"(...) O primeiro é miraculoso: aquele que nos mostra um projeto de gente em nosso ventre, coraçãozinho já formado, batendo acelerado. Esse confirma que a gravidez é uterina – ou denuncia uma gravidez tubária, que precisa ser rapidamente abortada para não colocar em risco a vida da mãe. Os seguintes, sempre solicitados pelo médico, revelam a boa formação do cérebro e de outros órgãos do corpo, e mais tarde atestam a saúde da placenta ou acusam seu envelhecimento precoce e mostram se a posição do cordão umbilical exigirá algum cuidado especial no parto.

Recentemente, contudo, a facilidade de fazer ultrassonografias popularizou os exames eletivos, como os tridimensionais em alta resolução, “para ver o rostinho do bebê”. Há até quem compre seu aparelho portátil, “para monitorar o bebê o tempo todo” – o que foi o caso de Tom Cruise durante a gravidez de sua mulher, Katie Holmes, processo acompanhado sem trégua pela mídia. Tais exames, segundo alguns sites, seriam “completamente isentos de malefícios” e, portanto, poderiam ser feitos “à vontade”.
Mas qualquer pessoa diz qualquer coisa na internet, e a verdade é um pouco diferente. O exame de ultrassonografia expõe o embrião ou feto a uma rajada de ondas mecânicas de alta frequência, usadas em laboratório para dissociar e até matar células. Por isso, Pasko Rakic, um dos maiores especialistas no desenvolvimento pré-natal do sistema nervoso, suspeitou que o exame não fosse tão inofensivo assim.
Em um estudo publicado em 2006, Rakic mostrou que, aplicada a fêmeas prenhes de camundongos em condições comparáveis às dos exames feitos em humanas, a ultrassonografia pode, sim, prejudicar a migração dos neurônios que formarão o cérebro dos filhotes. Até 15 minutos de exposição ao ultrassom não têm efeito detectável: sem a ultrassonografia, apenas 5% dos neurônios em migração do local onde nascem até seu destino no córtex cerebral ficam dispersos pelo caminho, como que perdidos ou atrasados. Mas com 30 minutos de exposição total ao ultrassom, a porcentagem de neurônios fora da rota sobe para 9% e vai aumentando com o tempo de exposição até um máximo de 19%, com a maior exposição ao ultrassom no estudo: 7 horas.
O efeito é pequeno. Além disso, ainda não se sabe se tem conseqüências detectáveis sobre os fetos examinados e certamente não é razão para você ir correndo cancelar seu exame ou impedir que sua filha ou irmã façam os seus. Anos e anos de ultrassonografia durante o pré-natal confirmam que riscos eventuais de uma exposição pequena valem os benefícios oferecidos à mãe e ao bebê pelos exames feitos por razões médicas, que mantêm a exposição ao mínimo necessário.
O importante, contudo, é reconhecer que a ultrassonografia não é “completamente isenta de malefícios”: ela pode, sim, prejudicar a formação do cérebro, e, quanto maior for a exposição do feto ao ultrassom, maior será o risco de sua formação ser perturbada, sobretudo em exames tridimensionais de alta resolução, que empregam ultrassons mais fortes. Por maior que seja a curiosidade, ultrassonografia não é fotografia e deve ser usada, como os remédios, com bom-senso e orientação médica."Ultrassom em excesso pode prejudicar a formação do cérebro.
Pasko Rakic foi orientado pelo advogado de sua universidade, a Yale, a não responder a e-mails de gestantes perguntando se deveriam ou não fazer os exames pedidos pelo médico nem dar declarações à imprensa. Mas ficou feliz em saber que, por causa de seu estudo, Tom Cruise voltou atrás: a pequena Suri não foi bombardeada desnecessariamente por ondas de ultrassom durante a gestação."

Fonte: "Scientific American. Mente e Cérebro" no Portal UOL
http://www2.uol.com.br/vivermente/noticias/tecnicas_permitem_ver_o_rosto_do_bebe_durante_a_gravidez.html