Páginas

terça-feira, 18 de junho de 2013

Como foi para mim ter uma doula - Nascimento de Teodoro por Emanoelle


Há dias na vida que recebemos presentes - quando acompanho partos, os presentes são todos os momentos que passo com as parturientes enquanto elas constituem suas famílias.

Hoje fui surpreendida com este lindo depoimento de um nascimento que acompanhei em 18/09/2012.
Foi um depoimento gestado e que nasceu só agora e que me deixa muitissimo feliz em compartilhar com vocês.

Teodoro nasceu de parto normal, por uma mamãe guerreira chamada Emanoelle e acompanhado por um pai super presente, o Guilherme.

A seguir, a experiência deles de terem tido um parto normal e uma doula.


Um anjo chamado Carol

Foi muito fácil dar um título a esse depoimento, pois nada poderia se aproximar mais da realidade do que comparar minha doula a um anjo, naquela noite. A noite mais importante de todos os meus 35 anos de vida: 18/09/12, data do nascimento do meu primeiro filho, o Teodoro.
A emoção toma conta de mim ao lembrar daqueles momentos e, muito disso, se deve à Carol que foi, sem sombra de dúvida, responsável por permitir que a lembrança toque o meu coração. Isso porque, infelizmente, não pude contar com meu médico para boas recordações... apesar de ter tido um ótimo pré-natal, no parto, não tive um atendimento humanizado e sensível como esperava. Não vindo dele. Mas estou aqui para falar do anjo Carol, que é, afinal de contas, a parte boa da história.
Minha história começa no consultório do obstetra, às 11h do dia 17/09, numa consulta de rotina. Eu estava então com 38 semanas. Durante o toque, ele constatou que eu tinha 5 de dilatação e, em seguida, a bolsa se rompeu. Que susto e que surpresa! Meu grande desejo de ter um filho virginiano e nascido de parto normal ia se realizar! Saí de lá feliz da vida e segui à risca as orientações do obstetra: ir para casa, tomar um banho, comer, descansar e ir para a maternidade quando as contrações começassem. Se por acaso não começassem, deveria ir para lá às 15h. Assim o fiz, pois até 15h, nada de contrações – o que já estava me preocupando, pois sabia que tudo indicava que teria que fazer uso de ocitocina se não quisesse uma cesariana...
E assim foi: depois de muito caminhar, girar sobre a bola de pilates, fazer massagens, descansar, comer e tentar, por 2 vezes, o uso de um comprimido para afinar o colo do útero, nada de contrações. Quanto à dilatação, essa havia chegado a 6 até então. O médico estava de plantão na clínica naquele dia, por isso, foi e voltou umas 2 ou 3 vezes para checar o andamento do trabalho de parto, que não evoluía. E eu, esperava, ao lado de meu marido, minha mãe e meu irmão mais novo. E deu 20h, final do plantão do médico: nada ainda. Optei por solicitar sua presença no parto – o que já havia sido acordado durante o pré-natal - pois achei que fosse ficar mais segura e ter um atendimento personalizado e atencioso se contratasse o mesmo obstetra que acompanhou a gestação para o dia do parto. Não foi bem assim. Mas, tudo bem, pois eu tive a sorte de ter a Carol ao meu lado.
E durante todo o processo – todo MESMO! – lá estava o anjo que dei sorte de encontrar: Carol, sempre ao meu lado dando todo o apoio necessário. Ela checava o coraçãozinho do bebê, me acompanhava nas caminhadas pela área externa da clínica, me ouvia, aconselhava, acalmava, lembrava de me orientar sobre a respiração, lembrava-me que era hora de comer e anotava tudo o que era necessário no seu caderninho. Ela me ajudou a reorganizar a malinha do bebê, a acalmar minha mãe (que estava suuuuper nervosa), a chamar o médico quando eu precisava,... a lista é enorme! Para mim, sem exageros, ela foi a salvação da noite! É claro que ter meu marido e minha família por perto foi ótimo e me deu conforto, mas a doula é diferente, pois é uma profissional e está preparada e capacitada para atuar de forma ampla e segura nesse momento tão importante e especial da vida da gente. Bom, pelo menos a Carol foi assim.
Já era tarde da noite e o processo não evoluía. A Carol havia me prevenido das opções disponíveis e o médico confirmou: ocitocina. Como eu estava muito certa de que não queria uma cesariana (a menos que fosse inevitável), aceitei encarar a indução. Eu estava com medo, pois havia lido que costumava ser muito dolorido. Mas lá fui eu! A Carol, como sempre, me dando força e me acompanhando em tudo. Por um tempo fiquei deitada na maca com meu marido, descansando, no aguardo das contrações. A Carol velava o nosso descanso na salinha ao lado, sem nem acender a luz para não incomodar. Ainda não disse, mas a lembrança nítida que tenho dela no dia do meu parto é de uma presença suave, muito suave. Ela estava lá o tempo todo, foi fundamental para mim em todos os aspectos, trabalhou sem parar, mas ao mesmo tempo mantinha uma calma incrível, uma serenidade, uma tranquilidade... isso me transmitiu uma paz enorme e sei que meu bebê sentiu isso também. Tem coisa mais importante num momento como esse? Para mim foi essencial.  Lembro que quando a coisa começou a esquentar, eu já nem via mais nada: de olhos fechados, tentava controlar a dor e a respiração. Mas tenho uma nítida lembrança da voz dela, muito suave e delicada, me dizendo: “Respire para o seu filho.”; “Querida, você precisa respirar para o seu bebê.”; “Você está indo muito bem, vai dar tudo certo!”. Impossível não destacar as vantagens de ter uma doula que também é psicóloga, pois o suporte emocional que uma gestante precisa numa hora dessas é muito melhor compreendido por um profissional. Mas também sei que muita coisa se deve ao jeito e à personalidade da doula. Sendo assim, mais uma vez dei sorte.
E então comecei a ter vontade de ir ao banheiro a todo momento. E lá ia ela comigo, pois nem isso eu conseguia mais fazer sozinha: ela segurava o soro de onde gotejava a ocitocina, pois minha mãe já tinha saído de lá. Eu preferi assim, pois ela estava nervosa e nervosa já bastava eu! Rss... aí a dor aumentou de repente e a Carol achou melhor irmos para a banheira de água quente, para aliviar. Mas mal entrei e já tive que sair: a dor foi demais para mim. De repente, de repente mesmo, eu simplesmente me vi invadida por uma dor que não conseguia segurar e clamei pela analgesia. Mesmo sabendo que já estava muito perto da dilatação total e que não era o ideal, não consegui: havia chegado ao meu limite. Pelo menos eu tentei, mas quando não deu, a Carol entendeu minha mensagem e imediatamente providenciou para que meu médico chegasse rápido e pudesse encaminhar os procedimentos junto ao anestesista. Gente, nessa hora eu perdi o bom senso: a dor era tanta, que eu gritava (e tinha jurado para mim mesma que não ia gritar!) e queria que a analgesia fosse imediata! Como eu ia entender que precisava vestir a roupa do centro cirúrgico e andar até lá? Só a Carol para me acalmar e entender! Especialmente na hora da aplicação, quando eu estava enlouquecida de dor e apertei os braços dela com tanta força, que não sei como ela continuou ali! E ela só dizia: “Isso, querida, pode me apertar, não tem problema.”. Santa Carol! Eu estava sem controle!
É importante dizer que essa dor toda foi minha e não acontece igual para todas as mulheres. Não quero assustar ninguém, pois sei que isso é muito individual: tenho uma tolerância baixa para a dor, mas falei com outras mulheres que passaram por isso com bem menos dificuldade que eu.
Após a analgesia, não senti mais nada, foi tudo muito tranquilo. O problema foi que as contrações ficaram mais espaçadas e os batimentos cardíacos do bebê reduziram. Fiquei apavorada e fiz toda a força que consegui. Tentei em várias posições e a de cócoras foi a que deu mais certo. Meu marido junto, dando suporte aos meus braços e acompanhando tudo de perto. E a Carol com sua presença suave ali pertinho, para o que fosse preciso. E, mais uma vez, ela fez exatamente o que eu havia pedido a ela antes: quando meu lindo Teodoro “escorregou” (palavras dela!) de dentro de mim para a vida, ela fez, discretamente, algumas fotos para lembrança. Eu não queria flashes o tempo, mas queria alguma recordação. E bastou pedir a ela, pois percebi que em sua postura profissional havia uma enorme preocupação em contribuir para que a gestante tivesse um momento do jeito que ela sonhava. O que faltou no médico, sobrou na doula! Obrigada, Carol, pela enésima vez!
O contato com meu filho recém-nascido foi uma sensação incomparável! Que emoção, que alegria! Eu fiquei sem palavras, só queria confortá-lo em meus braços! Foi bom demais! Pena que durou pouco, pois ele teve que ser levado à UTI para cuidar de um desconforto respiratório transitório que teve. Fiquei assustada, mas sabia que era o melhor para ele. Para mim, restaram então os pontos (já que a placenta saiu imediatamente após o bebê), que foram quatro. A Carol me deu a mão, enquanto meu marido ia acompanhar o nosso filho. Não foi um momento fácil, então mais uma vez fiquei feliz por poder contar com o apoio dela. Ao levantar, desmaiei, em função da pressão que estava muito baixa. Carol e a enfermeira me seguraram e ficaram comigo até que eu me recuperasse e então me levaram ao quarto, onde descansei.

Eu acho que consegui expressar o tamanho da minha satisfação com o trabalho da Carol e o quanto sou grata a ela. Mas a impressão que tenho é que por mais que eu reconheça e elogie o que ela fez por mim, nunca será suficiente. É um momento único na vida da gente e ela esteve lá fazendo tudo para que eu guardasse a melhor recordação possível!


                                                                                    Emanoelle