Há dias na vida que recebemos presentes - quando acompanho partos, os presentes são todos os momentos que passo com as parturientes enquanto elas constituem suas famílias.
Hoje fui surpreendida com este lindo depoimento de um nascimento que acompanhei em 18/09/2012.
Foi um depoimento gestado e que nasceu só agora e que me deixa muitissimo feliz em compartilhar com vocês.
Teodoro nasceu de parto normal, por uma mamãe guerreira chamada Emanoelle e acompanhado por um pai super presente, o Guilherme.
A seguir, a experiência deles de terem tido um parto normal e uma doula.
Um anjo
chamado Carol
Foi muito
fácil dar um título a esse depoimento, pois nada poderia se aproximar mais da
realidade do que comparar minha doula a um anjo, naquela noite. A noite mais
importante de todos os meus 35 anos de vida: 18/09/12, data do nascimento do
meu primeiro filho, o Teodoro.
A emoção
toma conta de mim ao lembrar daqueles momentos e, muito disso, se deve à Carol
que foi, sem sombra de dúvida, responsável por permitir que a lembrança toque o
meu coração. Isso porque, infelizmente, não pude contar com meu médico para
boas recordações... apesar de ter tido um ótimo pré-natal, no parto, não tive
um atendimento humanizado e sensível como esperava. Não vindo dele. Mas estou
aqui para falar do anjo Carol, que é, afinal de contas, a parte boa da
história.
Minha
história começa no consultório do obstetra, às 11h do dia 17/09, numa consulta
de rotina. Eu estava então com 38 semanas. Durante o toque, ele constatou que
eu tinha 5 de dilatação e, em seguida, a bolsa se rompeu. Que susto e que
surpresa! Meu grande desejo de ter um filho virginiano e nascido de parto
normal ia se realizar! Saí de lá feliz da vida e segui à risca as orientações
do obstetra: ir para casa, tomar um banho, comer, descansar e ir para a
maternidade quando as contrações começassem. Se por acaso não começassem,
deveria ir para lá às 15h. Assim o fiz, pois até 15h, nada de contrações – o
que já estava me preocupando, pois sabia que tudo indicava que teria que fazer
uso de ocitocina se não quisesse uma cesariana...
E assim
foi: depois de muito caminhar, girar sobre a bola de pilates, fazer massagens,
descansar, comer e tentar, por 2 vezes, o uso de um comprimido para afinar o colo
do útero, nada de contrações. Quanto à dilatação, essa havia chegado a 6 até
então. O médico estava de plantão na clínica naquele dia, por isso, foi e
voltou umas 2 ou 3 vezes para checar o andamento do trabalho de parto, que não
evoluía. E eu, esperava, ao lado de meu marido, minha mãe e meu irmão mais
novo. E deu 20h, final do plantão do médico: nada ainda. Optei por solicitar
sua presença no parto – o que já havia sido acordado durante o pré-natal - pois
achei que fosse ficar mais segura e ter um atendimento personalizado e
atencioso se contratasse o mesmo obstetra que acompanhou a gestação para o dia
do parto. Não foi bem assim. Mas, tudo bem, pois eu tive a sorte de ter a Carol
ao meu lado.
E durante
todo o processo – todo MESMO! – lá estava o anjo que dei sorte de encontrar:
Carol, sempre ao meu lado dando todo o apoio necessário. Ela checava o
coraçãozinho do bebê, me acompanhava nas caminhadas pela área externa da
clínica, me ouvia, aconselhava, acalmava, lembrava de me orientar sobre a
respiração, lembrava-me que era hora de comer e anotava tudo o que era
necessário no seu caderninho. Ela me ajudou a reorganizar a malinha do bebê, a
acalmar minha mãe (que estava suuuuper nervosa), a chamar o médico quando eu
precisava,... a lista é enorme! Para mim, sem exageros, ela foi a salvação da
noite! É claro que ter meu marido e minha família por perto foi ótimo e me deu
conforto, mas a doula é diferente, pois é uma profissional e está preparada e
capacitada para atuar de forma ampla e segura nesse momento tão importante e
especial da vida da gente. Bom, pelo menos a Carol foi assim.
Já era
tarde da noite e o processo não evoluía. A Carol havia me prevenido das opções
disponíveis e o médico confirmou: ocitocina. Como eu estava muito certa de que
não queria uma cesariana (a menos que fosse inevitável), aceitei encarar a
indução. Eu estava com medo, pois havia lido que costumava ser muito dolorido.
Mas lá fui eu! A Carol, como sempre, me dando força e me acompanhando em tudo.
Por um tempo fiquei deitada na maca com meu marido, descansando, no aguardo das
contrações. A Carol velava o nosso descanso na salinha ao lado, sem nem acender
a luz para não incomodar. Ainda não disse, mas a lembrança nítida que tenho
dela no dia do meu parto é de uma presença suave, muito suave. Ela estava lá o
tempo todo, foi fundamental para mim em todos os aspectos, trabalhou sem parar,
mas ao mesmo tempo mantinha uma calma incrível, uma serenidade, uma
tranquilidade... isso me transmitiu uma paz enorme e sei que meu bebê sentiu
isso também. Tem coisa mais importante num momento como esse? Para mim foi
essencial. Lembro que quando a coisa
começou a esquentar, eu já nem via mais nada: de olhos fechados, tentava
controlar a dor e a respiração. Mas tenho uma nítida lembrança da voz dela, muito
suave e delicada, me dizendo: “Respire para o seu filho.”; “Querida, você
precisa respirar para o seu bebê.”; “Você está indo muito bem, vai dar tudo
certo!”. Impossível não destacar as vantagens de ter uma doula que também é
psicóloga, pois o suporte emocional que uma gestante precisa numa hora dessas é
muito melhor compreendido por um profissional. Mas também sei que muita coisa
se deve ao jeito e à personalidade da doula. Sendo assim, mais uma vez dei
sorte.
E então
comecei a ter vontade de ir ao banheiro a todo momento. E lá ia ela comigo,
pois nem isso eu conseguia mais fazer sozinha: ela segurava o soro de onde
gotejava a ocitocina, pois minha mãe já tinha saído de lá. Eu preferi assim,
pois ela estava nervosa e nervosa já bastava eu! Rss... aí a dor aumentou de
repente e a Carol achou melhor irmos para a banheira de água quente, para
aliviar. Mas mal entrei e já tive que sair: a dor foi demais para mim. De
repente, de repente mesmo, eu simplesmente me vi invadida por uma dor que não
conseguia segurar e clamei pela analgesia. Mesmo sabendo que já estava muito
perto da dilatação total e que não era o ideal, não consegui: havia chegado ao
meu limite. Pelo menos eu tentei, mas quando não deu, a Carol entendeu minha
mensagem e imediatamente providenciou para que meu médico chegasse rápido e
pudesse encaminhar os procedimentos junto ao anestesista. Gente, nessa hora eu
perdi o bom senso: a dor era tanta, que eu gritava (e tinha jurado para mim
mesma que não ia gritar!) e queria que a analgesia fosse imediata! Como eu ia
entender que precisava vestir a roupa do centro cirúrgico e andar até lá? Só a
Carol para me acalmar e entender! Especialmente na hora da aplicação, quando eu
estava enlouquecida de dor e apertei os braços dela com tanta força, que não
sei como ela continuou ali! E ela só dizia: “Isso, querida, pode me apertar,
não tem problema.”. Santa Carol! Eu estava sem controle!
É
importante dizer que essa dor toda foi minha e não acontece igual para todas as
mulheres. Não quero assustar ninguém, pois sei que isso é muito individual:
tenho uma tolerância baixa para a dor, mas falei com outras mulheres que
passaram por isso com bem menos dificuldade que eu.
Após a
analgesia, não senti mais nada, foi tudo muito tranquilo. O problema foi que as
contrações ficaram mais espaçadas e os batimentos cardíacos do bebê reduziram.
Fiquei apavorada e fiz toda a força que consegui. Tentei em várias posições e a
de cócoras foi a que deu mais certo. Meu marido junto, dando suporte aos meus
braços e acompanhando tudo de perto. E a Carol com sua presença suave ali
pertinho, para o que fosse preciso. E, mais uma vez, ela fez exatamente o que
eu havia pedido a ela antes: quando meu lindo Teodoro “escorregou” (palavras
dela!) de dentro de mim para a vida, ela fez, discretamente, algumas fotos para
lembrança. Eu não queria flashes o tempo, mas queria alguma recordação. E
bastou pedir a ela, pois percebi que em sua postura profissional havia uma
enorme preocupação em contribuir para que a gestante tivesse um momento do
jeito que ela sonhava. O que faltou no médico, sobrou na doula! Obrigada,
Carol, pela enésima vez!
O contato
com meu filho recém-nascido foi uma sensação incomparável! Que emoção, que
alegria! Eu fiquei sem palavras, só queria confortá-lo em meus braços! Foi bom
demais! Pena que durou pouco, pois ele teve que ser levado à UTI para cuidar de
um desconforto respiratório transitório que teve. Fiquei assustada, mas sabia
que era o melhor para ele. Para mim, restaram então os pontos (já que a
placenta saiu imediatamente após o bebê), que foram quatro. A Carol me deu a
mão, enquanto meu marido ia acompanhar o nosso filho. Não foi um momento fácil,
então mais uma vez fiquei feliz por poder contar com o apoio dela. Ao levantar,
desmaiei, em função da pressão que estava muito baixa. Carol e a enfermeira me
seguraram e ficaram comigo até que eu me recuperasse e então me levaram ao
quarto, onde descansei.
Eu acho
que consegui expressar o tamanho da minha satisfação com o trabalho da Carol e o
quanto sou grata a ela. Mas a impressão que tenho é que por mais que eu
reconheça e elogie o que ela fez por mim, nunca será suficiente. É um momento
único na vida da gente e ela esteve lá fazendo tudo para que eu guardasse a
melhor recordação possível!
Emanoelle