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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A psicoterapia dói?

No fim de semana passado participei de um workshop do meu curso de especialização e tive a agradável surpresa de ser não somente um encontro para integração do grupo, mas uma bela e dolorosa terapia de grupo. Várias vivências e histórias pessoais foram trazidas pelos participantes e, em meio do compartilhar de todos, comecei a pensar como a psicoterapia, na realidade, dói. 

Ao entrarmos em contato com todas as formas de abusos, negligências e violência que vivenciamos no decorrer da vida, a dor é quase insuportável.  Entretanto esta se parece como uma tempestade no mar, que depois do agito há a calmaria. Apesar de a psicoterapia por vezes doer, é uma dor COM O OUTRO, não é vivenciada sozinha, e como a tempestade, passa. E ao passar, nos dá uma sensação de integridade, de organização e principalmente força.

O que acontece na psicoterapia é que estes vividos dolorosos são acolhidos e respeitados por um profissional com disponibilidade para nos ajudar a lidar com as dores.

A psicoterapia se configura em uma situação em que todas estas coisas ruins que sofremos PODEM APARECER e serem ACOLHIDAS. No mundo real - fora do campo da terapia - temos medo de ofender e deixar os outros desconfortáveis com nossos problemas; medo de que por termos sofrido na vida eles possam se afastar de nós. Isto normalmente não ocorre na psicoterapia. Este campo é neutro, seguro, onde um profissional terá o respeito e disponibilidade para lidar com todas as coisas difíceis que possam ser trazidas.

Ao falar sobre os problemas, as peças do quebra cabeça vão se encaixando e as coisas parecem fazer mais sentido. Assim, a psicoterapia se torna um recurso para nos conhecermos melhor, para trabalharmos com nossas ferramentas e possibilidades de encarar as situações da vida. O papel do psicólogo é ajudar nesta trajetória, exemplificando, ampliando as possibilidades de ação e ajudando a perceber essas ferramentas que existem em nós. 

O que eu percebi com um workshop repleto de psicólogos, é que além de todo o estudo e afinidade pelos temas da Gestalt Terapia (uma abordagem de psicoterapia) que temos em comum, compartilhamos histórias e vivências parecidas - histórias de dor - e assim conseguimos nos identificar com a dor dos outros e de nossos clientes, desenvolvendo a capacidade de acolhê-la. 

Para finalizar este post, fica a definição de Psicoterapia proposta pelo autor e psicólogo Ênio Brito Pinto, no livro Gestalt Terapia de Curta Duração (2009).

"A psicoterapia, grosso modo, é o encontro de duas pessoas, o terapeuta e o cliente, com o propósito de analisar e compreender a vida do cliente visando facilitar a recuperação da qualidade do contato, da vivacidade, do ritmo e da abertura do cliente para a vida. A psicoterapia favorece alternativas para avaliar pontos de vista, percepções e posturas que afetam os sentimentos e o comportamento do cliente".


"A psicoterapia não é um processo de aprendizagem, não é um lugar onde o cliente vá aprender sobre si, mas antes, é um processo de exploração do mundo e de auto-exploração onde o cliente vai descobrir sobre si (...), quer seja sobre suas sombras, sobre sua luz, quer seja sobre suas belezas ou suas tragédias. Ao terapeuta cabe apontar as pontes e os caminhos, os abismos e as florestas por onde pode acompanhar seu cliente na aventura de conhecer-se".



2 comentários:

  1. Carol, você descreveu a psicoterapia de um jeito lindo. O conceito do Ênio não chegou nem perto da clareza que você trouxe com suas palavras, hehe.

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  2. Lindo texto, Carol! Trouxeste fidedignamente o que eu também acredito ser a psicoterapia! Vou começar a acompanhar o seu blog. Beijos, Larissa.

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